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Cartografia do lugar

Cartografia: uma definição provisória

 

Para os geógrafos, a cartografia – diferente do mapa: representação de um todo estático – é um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de transformação da paisagem. Paisagens psicossociais também são cartografáveis. A cartografia, nesse caso, acompanha e se faz ao mesmo tempo que o desmanchamento de certos mundos – sua perda de sentido – e a formação de outros: mundos que se criam para expressar afetos contemporâneos, em relação aos quais os universos vigentes tornaram-se obsoletos.

Sendo tarefa do cartógrafo dar língua para afetos que pedem passagem, dele se espera  basicamente que esteja mergulhado nas intensidades de seu tempo e que, atento às linguagens que encontra, devore as que lhe parecerem elementos possíveis para a composição das cartografias que se fazem necessárias.

O cartógrafo é antes de tudo um antropófago.

[Trecho de Suely Rolnik: Cartografia Sentimental, Transformações contemporâneas do desejo, Editora Estação Liberdade, São Paulo, 1989.]

 

Assim...

A apreensão do lugar trará um exercício experimental como alternativa metodológica aos “diagnósticos” tradicionais. Logo, serão realizadas cartografias da área em estudo. Tais cartografias terão dois momentos: (1) de contaminação [percepção + contaminação do espaço pela experiência de percorrê-lo], e (2) de interação [contaminação + comunicação com habitantes/usuários por meio de entrevistas].

 

As cartografias serão desenvolvidas em grupos distribuídos em recortes pré-determinados da área em estudo, obedecendo uma diretriz metodológica articulada entre um tema, um conceito e um âmbito espacial.

 

Produtos para debate - painel:

  • Slides trazendo reflexões acerca da cartografia desenvolvida apontando, como uma síntese, uma grande indagação ao lugar estudado. Esses slides deverão mostrar o raciocínio do grupo, a partir das ideias cartografadas no exercício, para a construção da grande indagação ao lugar estudado.

  • Vídeo de, no máximo, 5 minutos. O vídeo será o produto da cartografia do lugar de maior visibilidade e obedecerá uma diretriz metodológica articulada entre um tema, um conceito e um âmbito espacial.

 

Os slides e os vídeos ficarão disponíveis no site da disciplina. Teremos, assim, cartografias sem mapas, cartografias em movimento que traduzirão a experiência de apreensão dos(as) alunos(as) de arquitetura acerca do lugar estudado. Essa cartografias servirão de fomento para debates futuros sobre o lugar de intervenção do ateliê de projeto.

Tema

Conceito

[conceitos desenvolvidos a partir de Merleau-Ponty]

 

CORPO

Trata-se de nosso próprio corpo tal como o experimentamos, de dentro, um corpo que se ergue em direção ao mundo. É o corpo considerado como particularmente nosso, ou seja, quando importa saber sobre o corpo de quem estamos falando. Assim, não posso encarar meu próprio corpo de maneira distanciada e puramente objetiva e na terceira pessoa, como se fosse apenas um exemplo de corpo humano. É meu corpo, aquele por meio do qual meus pensamentos e sentimentos entram em contato com os objetos. É assim que um mundo existe para mim: um corpo em primeira pessoa, o sujeito da experiência. Não faço contato com o mundo apenas pensando sobre ele. Eu experimento o mundo com os sentidos, agindo sobre ele por meio da mais sofisticada tecnologia até os movimentos mais primitivos, tendo sobre eles sentimentos que me dá uma gama de complexidade e sutileza.

 

ESPAÇO

A profundidade pode ser entendida como qualquer uma das três dimensões do espaço euclidiano: o que é profundidade para mim será largura para uma testemunha cujo olhar esteja orientado perpendicularmente ao meu. Mas essa “falsa” profundidade identificada com a largura é segunda: ela supõe uma percepção outra que recusa o visível e se idealiza em conceito. A verdadeira profundidade é dada a uma percepção viva que habita o espaço e anuncia um vínculo indissolúvel entre as coisas e mim. Logo, aquém da distância física ou geométrica que existe entre mim e todas as coisas, há uma distância vivida que me liga às coisas que contam e existem para mim. O que temos é um espaço existencial, antropológico ou vivido, o qual pode ser pensado também como o espaço da noite, o espaço do mito; e um outro espaço, o espaço “natural”, o espaço claro da percepção, o qual se torna por idealização geométrica, o único espaço verdadeiro e objetivo. Cada um é para o outro fundante e fundado. O espaço existencial funda o espaço “natural”, e, inversamente, o espaço “natural’ é o fundamento racional do espaço existencial.

 

EXPERIÊNCIA

Percepção e experiência são estreitamente solidárias no sentido de que  conceito de percepção tematiza essa abertura do mundo que o termo experiência nomeia de preferência de modo operatório e crítico. O que caracteriza a experiência em seu sentido original é que ela é sempre uma dupla prova ou uma prova reversível. Na visão, por exemplo, o vidente prova o visível, mas é ao mesmo tempo provado ou posto à prova pelo visível e é impossível palpar sem se expor a ser palpado: é da essência da experiência ser toda fora de si própria. A experiência é um dos nomes dessa reversibilidade que se opõe à noção de percepção a qual designa uma postura em que o ser humano já está inserido e os objetos mantêm sua distância e só o tocam com respeito.

 

HISTÓRIA

Antes de ser um conhecimento decorrente da consciência objetiva e científica do passado, a história é uma estrutura fundamental do mundo social que, através de nossa situação, faz com que nos comuniquemos com a humanidade integral, sincrônica e diacrônica. O historiador eleva o que, de início, é apenas um peso do passado sobre nosso campo social à condição de conhecimento apoiado na afinidade que faz que as situações se compreendam entre si. Nosso laço com o passado inscreve-se numa memória do mundo em que se fundamenta a verdade do passado e a verdade da historiografia. Além disso, esse laço com o passado na memória do mundo não é separável de uma práxis que é a história fazendo-se: não somos espectadores de uma história acabada, somos atores numa história aberta. A história não é somente sucessão, mas também, mais profundamente, simultaneidade.

 

INVISÍVEL

O invisível é uma armadura interior do sensível, que o sensível a um só tempo mostra e esconde e cuja presença conta no sensível como a de uma cavidade ou de uma ausência. O sensível não são somente as coisas, é também tudo o que ali se desenha, ainda que em negativo, tudo que ali deixa marca, tudo que ali se figura, ainda que a título de distância e como uma certa ausência. Por exemplo, a experiência de um corpo que percebe é a de uma outra consciência, no sentido de que o corpo que percebe deixa transparecer uma significação (decerto invisível), uma certa ausência que seu comportamento escava e dispõe atrás dele, mas sem o qual o corpo visível não se apresentaria como um corpo animado. Logo, o invisível é essa armação do visível que dá ao visível sua presença significante, sua essência ativa.

Âmbito Espacial

Ateliê P5 P6

Ano II (2016.2 - 2017.1)

Cartografia do lugar P5 2016.2

Cartografia do lugar P5 2015.2

Ateliê P5 P6

Ano I (2015.2 - 2016.1)

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© 2015 G o n ç a

Prof. Rodrigo Gonçalves

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Universidade Federal de Santa Catarina

Florianópolis SC Brasil

rodrigo.goncalves@ufsc.br

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